Através – Casarão do Jambeiro

Cidades em andamento

O que vemos através desses portais, dessas aberturas prestes a desmoronarem, dessas frestas que dão a ver outros portais, outras aberturas e outras frestas? Procuramos talvez um sentimento nostálgico do que teriam sido, há muitas décadas, essas ruinas e por que foram tão abandonadas. Uma estética saudosa ou uma inquietação pelos maus tratos do tempo e pela indiferença pelo passado da cidade? Algo aconteceu, um incêndio, uma explosão, uma tragédia outra, ou simplesmente o passado perdeu o interesse de seus habitantes frente à dinâmica desvairada do progresso a qualquer custo? Estaremos, talvez, nos lembrando do que também acontecerá conosco na passagem pelos portais do futuro?

Ou, ao contrário, as ruínas nos levam ao novo, à reconstrução das cidades, à esperança de novas gerações e novas conquistas? Ao enfrentamento de desastres inevitáveis, de escolhas difíceis e renovadoras. Esses restos restam, permanecem, mais ou menos informes, em fotos, em lembranças, em narrativas escritas e em conversas reservadas. Aceitam histórias várias, lembranças alegres ou tristes, significados contraditórios, relatos históricos e versões fantasiosas. O passado é para ser honrado e ultrapassado. As cidades estão em constante andamento e novas construções tomarão o lugar dessas ruinas.

Gostaria que a série “Cidades em andamento” despertasse nos visitantes uma polaridade de sentimentos que oscilassem entre os ecos de antigas lutas (com seus sucessos e suas derrotas) e a insistência em continuar, a coragem de enfrentar a transitoriedade de tudo que nos cerca.

Olivia Niemeyer