ENXAME

Faço muita coisa. E muito depressa. “No afogadilho”, acrescenta uma amiga companheira de arte.  Sou ansiosa, é claro. Estou imersa em uma sociedade que me cansa, um enxame de informações na palma da mão. Tudo desvanece e outras informações aparecem e voltam a se retirar.

Sou só eu, ou vocês estão também sentindo o enxame? O tempo a galope em uma errância de curvas e de linhas retas.

Onde me agarro, por onde escapo do enxame? Precisei encontrar uma maneira de puxar as rédeas do tempo, lançar um olhar em diagonal para as coisas, dar uma braçada para fora da correnteza, apreciar a vida de fora, como se estivesse em uma poltrona no acostamento, assistindo o passar dos carros em uma rodovia muito movimentada.

Os doodles que encontrei na internet me interessaram e me apontaram um caminho: desenhar pelo prazer de desenhar. Combater o enxame por meio de outro enxame.

Iniciei esses desenhos em folhas pautadas, balizas para me ajudar nesse início. Depois abandonei essas boias de salvação e me arrisquei a fazer com que esses doodles ficassem com a minha cara. Acrescentei desenhos de seres e animais imaginários que me acompanham há muito tempo.

Insistindo nesses desenhos, descobri que desenhar me acalma. Com um fio de tinta fazer filamentos, cabelos, gavinhas enroscadas sobre o papel. Os traços sobem para o papel como formigas. A repetição das mesmas retas, das mesmas curvas, dos mesmos arabescos. Repetição obstinada até cansar e aí, não parar de desenhar. Mudar de tema e continuar enredando animais entre as tramas, até quase dissolvê-los numa floresta de traços, um bicho de seda arranhando o papel tecendo uma trama bem fechada.

Para o filosofo Byung-Chu-Han, a inatividade significa fazer alguma coisa, mas sem objetivo (sou capaz de fazer isso)? Eu me sento em frente à televisão e escuto o noticiário ou vejo um filme enquanto desenho. As minhas mãos não trabalham, elas jogam, um jogo sem regras, ou melhor, um jogo onde eu faço as regras e as desfaço. Esse jogar me ajuda a escutar/suportar o noticiário na televisão.

Descansar a mente trabalhando, recuperar e acrescentar os elementos de desenho que estão estocados na minha biblioteca mental, em um depósito confuso na minha memória. Que parece muito com meu ateliê real.

Enxames me perseguem. Constelações. Não olhem muito de perto, são errâncias feitas de erros. Mas brinquem de achar os animais nessa floresta de rabiscos.