BORA: BIBLIOTECA DE OBRAS RARAS “FAUSTO CASTILHO”, UNICAMP

“O universo (que outros chamam a Biblioteca)”

Este projeto está incompleto, assim como todo livro (e cada biblioteca) deve permanecer incompleto. Cada folha de cada livro desencadeia livres e inúmeras interpretações, transformam-se em outras, negam-se e se confundem. Aceitam acréscimos que não a satisfazem e que exigem outros  desdobramentos.  O título do projeto remete à primeira linha de “A biblioteca de Babel”, Borges, J.L. (1989) Ficções, tradução de Carlos Nejar, 5ª edição, SPaulo: Globo.

O escritório de meu pai era cercado, em três paredes, pelas lombadas de livros. A quarta abria-se, por meio de uma grande janela, para o mundo lá fora, aquele mundo incoerente e absurdo que todo livro pretende, inutilmente, organizar.

 Meu pai gostava de comprar bibliotecas antigas à venda em sebos. Os assuntos e os tamanhos eram variados, lugares e tempos dobrados uns sobre os outros, sem um tema dominante, sem uma lógica predominante, o disparate conhecido dos excessos.  E vinham com dedicatórias, frases marcadas, notas nas margens, contracapas de papéis maravilhosos, ex-libris de desconhecidos, manchas, marcas e manhas da passagem do tempo, furos e caminhos abertos pelas traças. E ele os amava desse jeito, como testemunho de leituras alheias.

Olivia Niemeyer